Foi lançada na manhã de terça-feira (8) a 47ª Feira do Livro de Pelotas, que ocorrerá de 30 deste mês até 17 de novembro, na praça Coronel Pedro Osório, sob o tema Saberes e fazeres - Escrevendo a nossa história. Esta edição marcará a presença da primeira patrona afrodescendente do evento, a escolhida é a historiadora e pesquisadora Fernanda Oliveira. O orador será o professor e diretor do Iphan, Andrey Schlee, filho do homenageado, o escritor Aldyr Garcia Schlee, falecido no ano passado, aos 84 anos.

O lançamento ocorreu durante café da manhã na Pane Mio Gourmet, com a presença da prefeita, Paula Mascarenhas, e do vice-prefeito, Idemar Barz, além do presidente da Câmara Pelotense do Livro, entidade realizadora do evento, André de Souza Silva, e da pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pelotas, Francisca Michelon, entre outros. Fernanda Oliveira, além de apresentada falou sobre a importância do convite para ela. "É uma alegria e também uma grande responsabilidade", falou.

Fernanda é professora substituta da Universidade Federal de Pelotas de Teoria da História, com diversas publicações no currículo, uma delas será lançada durante a Feira do Livro. A pesquisadora tem trabalho voltado para desvendar o que aconteceu com experiência negra no período pós-abolição, ou seja, com a liberdade. "O que significa ser negro nesse lugar que diz que para além da escravidão não há nada que condicione a tua liberdade", comenta.

No entanto, a pesquisadora lembra que essas pessoas encontraram uma série de condicionamentos. "Não é a toa que o jornal negro de maior circulação das américas foi o A Alvorada (1907-1965), isso não é pouca coisa."

Além do jornal A Alvorada, a história dos clubes e entidades que congregavam os negros no início do século 20 também são foco de estudo da patrona da Feira. "Muito mais do que um espaço de resistência, trabalho com espaços de existência."

Para a pesquisadora, ter sido escolhida como patrona é fruto de toda uma estrada anterior. Fernanda lembrou que a primeira Feira do Livro teve a participação da Carolina Maria de Jesus, uma das principais autoras negras da literatura brasileira. Na época, ela foi recepcionada no Fica Ahí, com uma grande festa. "E uma série de outras autoras que passaram pela Feira, mas não só as que passaram, mas que nasceram aqui. Mulheres e homens negros que a gente tem que reconhecer", disse.

Uma delas, que inclusive tem sido tema de pesquisa de Fernanda, a escritora Maria Helena Vargas da Silveira, neta de Armando Vargas, um dos redatores do jornal A Alvorada. Maria Helena nasceu em Pelotas e morreu em 2009, em Brasília.

No final da vida ela assinava como Helena do Sul, para a pesquisadora um reconhecimento desse lugar de uma mulher negra que nasceu no Sul do Brasil. "Para mim é fundamental entender que eu não estou sozinha nesse lugar. Embora sendo a primeira, em pleno 2019, é muito importante reconhecer que tantas outras mulheres passaram por aqui antes, agora que a gente tem o reconhecimento.

Parcerias
Apostando em uma Feira ainda mais cultural este ano, a Câmara do Livro contará com os parceiros para enriquecer as atividades. Entre os parceiros a própria UFPel, que terá um estande no evento, a Bibliotheca Pública Pelotense e a prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura. "É um momento histórico ter pela primeira vez uma uma patrona negra na Feira do Livro", comentou o secretário da pasta, Georgio Ronna.

Ronna ainda salientou a parceria com a Fundação Palmares, que trará a Pelotas quatro autores para lançar seus livros. Entre os nomes estão os de Tom Farias, biógrafo da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), e Eliana Alves Cruz, que vai lançar o romance histórico policial O crime do cais do Valongo, além de ministrar uma oficina de romance histórico. Na programação da Feira ainda a peça Diário de Bitita, monólogo de Carolina Maria de Jesus.